«O genio é uma nevrose» proclamou d'uma vez o doutor Moreau, de Tours, aos quatro ventos do universo. Segundo elle, as esplendidas disposições d'espirito que fazem com que um homem suba acima do nivel commum, procedem das mesmas condições physiologicas que as diversas perturbações moraes cuja expressão é a loucura e o idiotismo. Seja isto ou seja que a constante intuscepção dos homens intelligentes os concentra de tal modo que parece viverem exclusivamente para si mesmos, absortos apenas no seu mundo psychologico, o certo é que estes homens se nos afiguram a mais das vezes entrados d'uma melancolia excepcional. Ora o doutor Moreau quer que esta melancolia que Aristoteles notou{8} no seu tempo, seja simplesmente alienação mental, e escreve «que, por constituição melancolica, Aristoteles entendia a disposição do organismo mais favoravel ao desenvolvimento da loucura. Melancolia,—continua o nosso doutor,—era o termo generico, sob o qual os medicos e philosophos da antiguidade designavam todas as fórmas de delirio chronico; corresponde á nossa palavra: alienação mental, loucura.» Aristoteles escreveu «que não havia um grande espirito que não tivesse um grau de loucura.» O doutor Moreau aproveita-se d'este dito e abona espirituosamente a verdade da sua these com o testemunho da antiguidade letrada. A excitação cerebral que precede e acompanha a inspiração, pareceu ao doutor de Tours o estado que mais analogia offerece com a loucura real, por isso que da accumulação insolita de forças vitaes n'um orgão,—palavras d'elle—duas consequencias são igualmente possiveis: mais energia nas funcções d'esse orgão mas tambem mais probabilidades de aberração e desvio d'essas mesmas funcções. Emilio Deschanel, author d'um interessante livro que temos aberto diante de nós, Physiologia dos escriptores e dos artistas, não deixa sem commentarios as proposições do espirituoso doutor
«O genio é uma nevrose» proclamou d'uma vez o doutor Moreau, de Tours, aos quatro ventos do universo. Segundo elle, as esplendidas disposições d'espirito que fazem com que um homem suba acima do nivel commum, procedem das mesmas condições physiologicas que as diversas perturbações moraes cuja expressão é a loucura e o idiotismo. Seja isto ou seja que a constante intuscepção dos homens intelligentes os concentra de tal modo que parece viverem exclusivamente para si mesmos, absortos apenas no seu mundo psychologico, o certo é que estes homens se nos afiguram a mais das vezes entrados d'uma melancolia excepcional. Ora o doutor Moreau quer que esta melancolia que Aristoteles notou{8} no seu tempo, seja simplesmente alienação mental, e escreve «que, por constituição melancolica, Aristoteles entendia a disposição do organismo mais favoravel ao desenvolvimento da loucura. Melancolia,—continua o nosso doutor,—era o termo generico, sob o qual os medicos e philosophos da antiguidade designavam todas as fórmas de delirio chronico; corresponde á nossa palavra: alienação mental, loucura.» Aristoteles escreveu «que não havia um grande espirito que não tivesse um grau de loucura.» O doutor Moreau aproveita-se d'este dito e abona espirituosamente a verdade da sua these com o testemunho da antiguidade letrada. A excitação cerebral que precede e acompanha a inspiração, pareceu ao doutor de Tours o estado que mais analogia offerece com a loucura real, por isso que da accumulação insolita de forças vitaes n'um orgão,—palavras d'elle—duas consequencias são igualmente possiveis: mais energia nas funcções d'esse orgão mas tambem mais probabilidades de aberração e desvio d'essas mesmas funcções. Emilio Deschanel, author d'um interessante livro que temos aberto diante de nós, Physiologia dos escriptores e dos artistas, não deixa sem commentarios as proposições do espirituoso doutor