Author: | A. R. Holliday | ISBN: | 6569000001997 |
Publisher: | Clube de Autores | Publication: | February 7, 2016 |
Imprint: | Clube de Autores | Language: | Portuguese |
Author: | A. R. Holliday |
ISBN: | 6569000001997 |
Publisher: | Clube de Autores |
Publication: | February 7, 2016 |
Imprint: | Clube de Autores |
Language: | Portuguese |
Resenha - As Cores do Sexo Por Júlio Martorano* Na edição de 24 de janeiro de 2016 o jornal Folha de São Paulo publicou, em seu caderno “cotidiano”, uma reportagem que tratava da aceitação da união estável para casais de 3 ou mais pessoas. Certamente algo impensável nos anos 1970. A reportagem traz à superfície duas questões bastante atuais que estão intimamente entrelaçadas: o amor além do sexo e a ética nos relacionamentos afetivos. É um pouco do que também nos traz A. R. Holliday em seu livro As cores do sexo - um homem, uma mulher e todas as cores do sexo , publicado em 2015 pela AGBooks. Embora o título possa sugerir uma história picante, recheada de sexo explicitamente descrito - e assim é que se passa de fato - trata-se de uma história de amor, permeada pelas dúvidas e conquistas comuns a qualquer pessoa. O leitor que não se engane: certamente, em algumas passagens do livro, aparecerão aqueles comichões no meio das pernas, um tesão causado pela descrição das experiências, mas o livro conta uma história de amor que tem o sexo como fio condutor. E, nas palavras do autor, sexo de qualidade, aquele praticado de forma intensa, demorada e sem escrúpulos. Narrada na primeira pessoa o personagem do livro, um garoto de classe média que se vê entrando na adolescência em meados da década de 1970. Uma época particularmente conturbada no Brasil onde, após uma explosão de liberdade sexual que tomou a juventude no final dos anos 1950 até meados dos anos 1960, passava por uma retração, talvez até em função do momento político conturbado. Mas não é essa a razão exposta pelo personagem. Vivia ele numa família onde as conversas sobre relacionamentos afetivos ficavam escondidos debaixo do tapete, em especial se o assunto fosse sexo. Daí começam as aventuras de um adolescente em direção à maturidade e a descoberta das angústias, dos prazeres e das apreensões da vida sexual. A lida com os fluidos do amor e do sexo, as formas de amar, os estratagemas sexuais, a perda da virgindade e as dúvidas sobre a gravidez foram, além do aprendizado que o personagem teve na prática, também objeto de estudo. Não tendo apoio na família, ele buscou nos livros e nos especialistas algumas das respostas às suas angústias. Embora já dito que a descrição é bastante detalhada, o leitor não encontrará nada diferente do que se pode ver nos dias atuais em matéria de relacionamento sexual: oral, anal, bondage, dentre outras modalidades praticadas pelo personagem. E é neste turbilhão de relações sexuais que encontramos uma história de um amor interrompido pelos mal-entendidos da vida, pela oposição familiar, pela timidez pós-adolescente e pelos casamentos que o personagem do livro e seu amor passam. No caso do personagem, um casamento pobre, onde as relações humanas, incluindo aí as sexuais, ficam em terceiro plano e eram pautadas, principalmente, por um jogo de interesses individuais. E não seria essa uma marca contundente da pós-modernidade? Não seria essa uma das características do amor líquido identificada por Zygmunt Bauman? Pois fica evidente a fragilidade das relações de parentesco e a força que as afinidades eletivas apresentam. Por isso mesmo é que se trata de um livro que coloca a ética como pano de fundo e com um julgamento moral bem definido. Uma moral judaico-cristã onde as relações de parentesco, seja com o irmão, com os pais e, principalmente, com a esposa, devem tomar uma dimensão de “não-liquidez”, o que aprofunda o sofrimento do personagem. Nesta moral, onde a ideia de culpa tem um papel central, o personagem não aceita a “liquidez” das relações. Seu triunfo se dá quando, mesmo com a saúde fragilizada, com sua vida pontificada por um prazo de validade e com a carreira profissional interrompida em sua ascensão, ele encontra naquele amor interrompido uma nova motivação para buscar ser feliz. É quando o personagem recupera seu amor próprio. No mais, fica nítido na narrativa que, como nas vidas de todos nós, a do nosso personagem também passa pelos momentos de euforia e satisfação e, logo em seguida, de tristeza, desespero e angústia, a ponto de, por 2 ocasiões, ter chegado a bater à porta do suicídio. Neste contexto Holliday nos faz pensar sobre a felicidade além do sexo. Até mesmo sem ele. É possível? Tanto faz. O que importa é que é uma leitura gostosa, agradável, daquelas que o leitor não quer parar e ainda pede mais. Será que teremos mais? *Júlio Martorano é engenheiro e sociólogo e ministrou a disciplina sobre sociologia, política e ética.
Resenha - As Cores do Sexo Por Júlio Martorano* Na edição de 24 de janeiro de 2016 o jornal Folha de São Paulo publicou, em seu caderno “cotidiano”, uma reportagem que tratava da aceitação da união estável para casais de 3 ou mais pessoas. Certamente algo impensável nos anos 1970. A reportagem traz à superfície duas questões bastante atuais que estão intimamente entrelaçadas: o amor além do sexo e a ética nos relacionamentos afetivos. É um pouco do que também nos traz A. R. Holliday em seu livro As cores do sexo - um homem, uma mulher e todas as cores do sexo , publicado em 2015 pela AGBooks. Embora o título possa sugerir uma história picante, recheada de sexo explicitamente descrito - e assim é que se passa de fato - trata-se de uma história de amor, permeada pelas dúvidas e conquistas comuns a qualquer pessoa. O leitor que não se engane: certamente, em algumas passagens do livro, aparecerão aqueles comichões no meio das pernas, um tesão causado pela descrição das experiências, mas o livro conta uma história de amor que tem o sexo como fio condutor. E, nas palavras do autor, sexo de qualidade, aquele praticado de forma intensa, demorada e sem escrúpulos. Narrada na primeira pessoa o personagem do livro, um garoto de classe média que se vê entrando na adolescência em meados da década de 1970. Uma época particularmente conturbada no Brasil onde, após uma explosão de liberdade sexual que tomou a juventude no final dos anos 1950 até meados dos anos 1960, passava por uma retração, talvez até em função do momento político conturbado. Mas não é essa a razão exposta pelo personagem. Vivia ele numa família onde as conversas sobre relacionamentos afetivos ficavam escondidos debaixo do tapete, em especial se o assunto fosse sexo. Daí começam as aventuras de um adolescente em direção à maturidade e a descoberta das angústias, dos prazeres e das apreensões da vida sexual. A lida com os fluidos do amor e do sexo, as formas de amar, os estratagemas sexuais, a perda da virgindade e as dúvidas sobre a gravidez foram, além do aprendizado que o personagem teve na prática, também objeto de estudo. Não tendo apoio na família, ele buscou nos livros e nos especialistas algumas das respostas às suas angústias. Embora já dito que a descrição é bastante detalhada, o leitor não encontrará nada diferente do que se pode ver nos dias atuais em matéria de relacionamento sexual: oral, anal, bondage, dentre outras modalidades praticadas pelo personagem. E é neste turbilhão de relações sexuais que encontramos uma história de um amor interrompido pelos mal-entendidos da vida, pela oposição familiar, pela timidez pós-adolescente e pelos casamentos que o personagem do livro e seu amor passam. No caso do personagem, um casamento pobre, onde as relações humanas, incluindo aí as sexuais, ficam em terceiro plano e eram pautadas, principalmente, por um jogo de interesses individuais. E não seria essa uma marca contundente da pós-modernidade? Não seria essa uma das características do amor líquido identificada por Zygmunt Bauman? Pois fica evidente a fragilidade das relações de parentesco e a força que as afinidades eletivas apresentam. Por isso mesmo é que se trata de um livro que coloca a ética como pano de fundo e com um julgamento moral bem definido. Uma moral judaico-cristã onde as relações de parentesco, seja com o irmão, com os pais e, principalmente, com a esposa, devem tomar uma dimensão de “não-liquidez”, o que aprofunda o sofrimento do personagem. Nesta moral, onde a ideia de culpa tem um papel central, o personagem não aceita a “liquidez” das relações. Seu triunfo se dá quando, mesmo com a saúde fragilizada, com sua vida pontificada por um prazo de validade e com a carreira profissional interrompida em sua ascensão, ele encontra naquele amor interrompido uma nova motivação para buscar ser feliz. É quando o personagem recupera seu amor próprio. No mais, fica nítido na narrativa que, como nas vidas de todos nós, a do nosso personagem também passa pelos momentos de euforia e satisfação e, logo em seguida, de tristeza, desespero e angústia, a ponto de, por 2 ocasiões, ter chegado a bater à porta do suicídio. Neste contexto Holliday nos faz pensar sobre a felicidade além do sexo. Até mesmo sem ele. É possível? Tanto faz. O que importa é que é uma leitura gostosa, agradável, daquelas que o leitor não quer parar e ainda pede mais. Será que teremos mais? *Júlio Martorano é engenheiro e sociólogo e ministrou a disciplina sobre sociologia, política e ética.