Castello de Paiva, junho de 1873. MEU AMIGO. Como tem navegado Douro acima e conhece bem as planicies e montanhas que a uma e outra margem se encontram, umas espraiando-se ao nivel da corrente, outras erguendo-se ameaçadoras e aridas para o ceo, não me dispenso de contar-lhe um caso triste e verdadeiro, porque o presenciei eu, se bem que mal possa ser chronista, porque estou ainda na commoção da surpreza. Encontrei-o no Porto, e disse-lhe que tinha de partir para Castello de Paiva. Effectivamente parti no dia fixado. Não jornadeei por terra, o que seria incomparavelmente mais rapido, porque me julguei obrigado, a bem de meus proprios interesses, a acompanhar o barco carregado por minha conta. Larguei do caes da Ribeira, cerca{6} da meia noite, para aproveitar a maré até Pé de Moira. Obedeço a um pedido não declarando o dia. Cerca das onze horas da manhã estava em Pé de Moira, onde os marinheiros e arraes almoçaram, comendo uns peixes fritos na barraca de ramas de pinheiro, que o meu amigo conhece, e bebendo pela tradicional bilha de barro vermelho. Ahi me prophetisou o arraes que o termo da viagem seria moroso, porque não havia vento e o barco ia muito carregado
Castello de Paiva, junho de 1873. MEU AMIGO. Como tem navegado Douro acima e conhece bem as planicies e montanhas que a uma e outra margem se encontram, umas espraiando-se ao nivel da corrente, outras erguendo-se ameaçadoras e aridas para o ceo, não me dispenso de contar-lhe um caso triste e verdadeiro, porque o presenciei eu, se bem que mal possa ser chronista, porque estou ainda na commoção da surpreza. Encontrei-o no Porto, e disse-lhe que tinha de partir para Castello de Paiva. Effectivamente parti no dia fixado. Não jornadeei por terra, o que seria incomparavelmente mais rapido, porque me julguei obrigado, a bem de meus proprios interesses, a acompanhar o barco carregado por minha conta. Larguei do caes da Ribeira, cerca{6} da meia noite, para aproveitar a maré até Pé de Moira. Obedeço a um pedido não declarando o dia. Cerca das onze horas da manhã estava em Pé de Moira, onde os marinheiros e arraes almoçaram, comendo uns peixes fritos na barraca de ramas de pinheiro, que o meu amigo conhece, e bebendo pela tradicional bilha de barro vermelho. Ahi me prophetisou o arraes que o termo da viagem seria moroso, porque não havia vento e o barco ia muito carregado