Author: | Fernando Rocha | ISBN: | 9789895136742 |
Publisher: | Chiado Books | Publication: | December 1, 2014 |
Imprint: | Chiado Books | Language: | Portuguese |
Author: | Fernando Rocha |
ISBN: | 9789895136742 |
Publisher: | Chiado Books |
Publication: | December 1, 2014 |
Imprint: | Chiado Books |
Language: | Portuguese |
O Professor, prostrado na calçada, assiste ao prédio desabar a sua volta, de dentro do silêncio que habita ouve cada grito, cada atrito, cada pedra de concreto que rola partida e repartida a cada segundo em mais um pedaço, assim como membros e troncos que se despedem em cores não mais vivas. A poeira se instala ao redor, mas ele não se mexe, mesmo porque aquilo não pode estar acontecendo, disso ele tem convicção. Então assiste a tudo como se estivesse em uma confortável poltrona, só que não controla a velocidade nem a seqüência do que acontece e num instante tudo que cai volta atrás e se reestrutura como um quebra-cabeça. Os pedaços, antes sem unidade, uma unidade reconhecível, se reagrupam como tésseras de um mosaico que jamais foi montado, reconstrução inédita usando sempre as mesmas peças, e o resultado é disforme, o Professor sente uma ânsia que projeta seu corpo à frente e o traz de volta ao repouso anterior, repouso de músculos dormentes que começam a latejar, rijos e moles, que batem fora do compasso do coração que fraqueja. E nessa ânsia ele volta a ficar estático enquanto contempla a forma que se apresenta à seus olhos. Os destroços estão todos de pé formando o prédio. Do chão doído levantaram-se os pedaços, mas não falam. As poças ao redor de seus pés recebem as gotas mais intensas da chuva, que aperta, e olhando para baixo ele tenta se afogar. Repetidas vezes o prédio desaba e retorna, a poeira se instala e se afasta, os pedaços atingem o chão e retornam ao local de partida, e o resultado é sempre distinto, cada vez pior, mais denso e mais frio, triste, e com isso a percepção da realidade tenta chegar à razão do professor que a repele a todo custo, olhando para os lados e para cima, para o chão, para o céu escuro e sem profundidade. Grita por Caco e recolhe a voz porque não tem motivo para isso, deve estar dormindo. A nitidez não existe mais, uma lembrança que chega e se afasta logo em seguida, afásica, e assim acontece com todas as que brotam, são esmagadas. Ele não tem consciência de estar lembrando ou esquecendo. A reação que tem, e não sabe que a tem, é a de imaginar que tudo aquilo não está ali, que ele esta à frente de uma folha de papel escrevendo sobre isso, relatando uma história que aconteceu no passado ou apenas em sua cabeça e a conta em terceira pessoa na maior parte do tempo, que é escasso.
O Professor, prostrado na calçada, assiste ao prédio desabar a sua volta, de dentro do silêncio que habita ouve cada grito, cada atrito, cada pedra de concreto que rola partida e repartida a cada segundo em mais um pedaço, assim como membros e troncos que se despedem em cores não mais vivas. A poeira se instala ao redor, mas ele não se mexe, mesmo porque aquilo não pode estar acontecendo, disso ele tem convicção. Então assiste a tudo como se estivesse em uma confortável poltrona, só que não controla a velocidade nem a seqüência do que acontece e num instante tudo que cai volta atrás e se reestrutura como um quebra-cabeça. Os pedaços, antes sem unidade, uma unidade reconhecível, se reagrupam como tésseras de um mosaico que jamais foi montado, reconstrução inédita usando sempre as mesmas peças, e o resultado é disforme, o Professor sente uma ânsia que projeta seu corpo à frente e o traz de volta ao repouso anterior, repouso de músculos dormentes que começam a latejar, rijos e moles, que batem fora do compasso do coração que fraqueja. E nessa ânsia ele volta a ficar estático enquanto contempla a forma que se apresenta à seus olhos. Os destroços estão todos de pé formando o prédio. Do chão doído levantaram-se os pedaços, mas não falam. As poças ao redor de seus pés recebem as gotas mais intensas da chuva, que aperta, e olhando para baixo ele tenta se afogar. Repetidas vezes o prédio desaba e retorna, a poeira se instala e se afasta, os pedaços atingem o chão e retornam ao local de partida, e o resultado é sempre distinto, cada vez pior, mais denso e mais frio, triste, e com isso a percepção da realidade tenta chegar à razão do professor que a repele a todo custo, olhando para os lados e para cima, para o chão, para o céu escuro e sem profundidade. Grita por Caco e recolhe a voz porque não tem motivo para isso, deve estar dormindo. A nitidez não existe mais, uma lembrança que chega e se afasta logo em seguida, afásica, e assim acontece com todas as que brotam, são esmagadas. Ele não tem consciência de estar lembrando ou esquecendo. A reação que tem, e não sabe que a tem, é a de imaginar que tudo aquilo não está ali, que ele esta à frente de uma folha de papel escrevendo sobre isso, relatando uma história que aconteceu no passado ou apenas em sua cabeça e a conta em terceira pessoa na maior parte do tempo, que é escasso.