Obras Completas de Luis de Camões, Tomo II, Tomo III

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Cover of the book Obras Completas de Luis de Camões, Tomo II, Tomo III by Luís Vaz de Camões, Library of Alexandria
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Author: Luís Vaz de Camões ISBN: 9781465564566
Publisher: Library of Alexandria Publication: July 29, 2009
Imprint: Library of Alexandria Language: Portuguese
Author: Luís Vaz de Camões
ISBN: 9781465564566
Publisher: Library of Alexandria
Publication: July 29, 2009
Imprint: Library of Alexandria
Language: Portuguese
Portugal, des de o berço educado para as armas e endurecido na guerra, a todas as nações modernas se avantajou em gloria militar. Com poucas forças e meios não somente sustentou longas e terriveis{VIII} guerras, mas não contente de reconquistar e manter gloriosamente a sua independencia, emprehendeo mores cousas: devassou mares virgens, descobrio novas regiões, venceo e sujeitou a seu jugo muitos e mui poderosos Reis e povos; e tendo estendido o seu imperio até aos ultimos confins da terra, excitando a admiração das gentes com nunca vistos prodigios de industria, de valor, e de constancia por espaço de quasi cinco seculos, longo tempo se manteve no apice da grandeza e gloria humana: até que o ultimo Henrique, dessemelhante em tudo do primeiro, preparada ja nos dous antecedentes reinados a encosta por onde a illustre nação devia descer da altura a que subira; reunindo em si o Bago e o Sceptro e manchando as mãos sagradas nas cousas temporaes, a despenhou no abysmo, donde até hoje não ha podido mais levantar-se. Tendo, pois, florescido tanto nas armas, razão era que florescesse tambem nas letras. E com effeito, despertados os engenhos com o estrondo dos feitos militares, um pouco mais tarde começárão ellas de nascer, e achando o chão propicio, pouco a pouco se forão arraigando de maneira, que ja no decimo terceiro seculo, reinando ElRei Dom Denis, desabrochárão suas primeiras flores; tendo aquelle grande Rei a gloria de lhes haver dado o primeiro impulso, escrevendo elle mesmo com summa elegancia para o tempo algumas obras, como um Tratado entitulado Dos{IX} principaes deveres da Milicia, e dous Cancioneiros, um dos quaes appareceo em Roma, reinando em Portugal João III. E no decimo quarto produzírão ja um tão sazonado fructo, como o Amadis de Gaula, obra de Vasco de Lobeira, que traduzida por Bernardo Tasso, pae do Epico Italiano, tamanho brado deo na Italia, e da qual o mesmo Epico diz (Defens. di Goffredo): Per giudizio di molti e mio particularmente è la più bella che si legga fra quelle di queste genere.... Perche nell'affetto e nei costumi se lascia addietro tutte l'altre, e nella varietá de gli accidenti non cede ad alcuna, che dapoi nè daprima fosse stato scritta. E como tal a exceptuou Miguel de Cervantes na revista que fez o Cura dos livros de Dom Quixote, dizendo: Este livro fué el primero de Caballarías que se escrevió en España, y todos los demas han tenido principio y origen deste.... Es el mijor de todos los que deste genero se han compuesto. No decimo quarto se escreveo a Chronica do Condestavel e grande capitão Dom Nuno Alvares Pereira (primeiro ensaio historico de que temos noticia) que se imprimio em Lisboa em 1520. No decimo quinto escreveo ElRei Dom Duarte O Leal Conselheiro, que se conserva na bibliotheca Real de París, e dous tratados entitulados, um Da Misericordia, outro Do Regimento da justiça{X} e Officiaes della etc. Seu irmão o Infante Dom Pedro, Duque de Coimbra, que veio a ser depois Regente do Reino durante a menoridade de Affonso 5.º, tambem escreveo algumas obras politicas e moraes em prosa e verso, algumas das quaes se imprimírão em Leiria 6 annos depois da invenção da imprensa, e traduzio do Latim e dedicou a seu irmão Dom Duarte Cicero de Officiis, e Vegetius de re militari. Ayres Telles de Menezes, que por esse mesmo tempo floresceo, foi elegante poeta; e delle nos conservou Rezende no seu Cancioneiro algumas poesias; e para que se veja a que estado de cultura e perfeição havia ja então chegado a nossa bella lingua, transcreveremos aqui a seguinte ODE
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Portugal, des de o berço educado para as armas e endurecido na guerra, a todas as nações modernas se avantajou em gloria militar. Com poucas forças e meios não somente sustentou longas e terriveis{VIII} guerras, mas não contente de reconquistar e manter gloriosamente a sua independencia, emprehendeo mores cousas: devassou mares virgens, descobrio novas regiões, venceo e sujeitou a seu jugo muitos e mui poderosos Reis e povos; e tendo estendido o seu imperio até aos ultimos confins da terra, excitando a admiração das gentes com nunca vistos prodigios de industria, de valor, e de constancia por espaço de quasi cinco seculos, longo tempo se manteve no apice da grandeza e gloria humana: até que o ultimo Henrique, dessemelhante em tudo do primeiro, preparada ja nos dous antecedentes reinados a encosta por onde a illustre nação devia descer da altura a que subira; reunindo em si o Bago e o Sceptro e manchando as mãos sagradas nas cousas temporaes, a despenhou no abysmo, donde até hoje não ha podido mais levantar-se. Tendo, pois, florescido tanto nas armas, razão era que florescesse tambem nas letras. E com effeito, despertados os engenhos com o estrondo dos feitos militares, um pouco mais tarde começárão ellas de nascer, e achando o chão propicio, pouco a pouco se forão arraigando de maneira, que ja no decimo terceiro seculo, reinando ElRei Dom Denis, desabrochárão suas primeiras flores; tendo aquelle grande Rei a gloria de lhes haver dado o primeiro impulso, escrevendo elle mesmo com summa elegancia para o tempo algumas obras, como um Tratado entitulado Dos{IX} principaes deveres da Milicia, e dous Cancioneiros, um dos quaes appareceo em Roma, reinando em Portugal João III. E no decimo quarto produzírão ja um tão sazonado fructo, como o Amadis de Gaula, obra de Vasco de Lobeira, que traduzida por Bernardo Tasso, pae do Epico Italiano, tamanho brado deo na Italia, e da qual o mesmo Epico diz (Defens. di Goffredo): Per giudizio di molti e mio particularmente è la più bella che si legga fra quelle di queste genere.... Perche nell'affetto e nei costumi se lascia addietro tutte l'altre, e nella varietá de gli accidenti non cede ad alcuna, che dapoi nè daprima fosse stato scritta. E como tal a exceptuou Miguel de Cervantes na revista que fez o Cura dos livros de Dom Quixote, dizendo: Este livro fué el primero de Caballarías que se escrevió en España, y todos los demas han tenido principio y origen deste.... Es el mijor de todos los que deste genero se han compuesto. No decimo quarto se escreveo a Chronica do Condestavel e grande capitão Dom Nuno Alvares Pereira (primeiro ensaio historico de que temos noticia) que se imprimio em Lisboa em 1520. No decimo quinto escreveo ElRei Dom Duarte O Leal Conselheiro, que se conserva na bibliotheca Real de París, e dous tratados entitulados, um Da Misericordia, outro Do Regimento da justiça{X} e Officiaes della etc. Seu irmão o Infante Dom Pedro, Duque de Coimbra, que veio a ser depois Regente do Reino durante a menoridade de Affonso 5.º, tambem escreveo algumas obras politicas e moraes em prosa e verso, algumas das quaes se imprimírão em Leiria 6 annos depois da invenção da imprensa, e traduzio do Latim e dedicou a seu irmão Dom Duarte Cicero de Officiis, e Vegetius de re militari. Ayres Telles de Menezes, que por esse mesmo tempo floresceo, foi elegante poeta; e delle nos conservou Rezende no seu Cancioneiro algumas poesias; e para que se veja a que estado de cultura e perfeição havia ja então chegado a nossa bella lingua, transcreveremos aqui a seguinte ODE

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