Author: | Fernando Pessoa | ISBN: | 1230000224014 |
Publisher: | Z Edições | Publication: | March 10, 2014 |
Imprint: | Language: | Portuguese |
Author: | Fernando Pessoa |
ISBN: | 1230000224014 |
Publisher: | Z Edições |
Publication: | March 10, 2014 |
Imprint: | |
Language: | Portuguese |
Álvaro de Campos (Tavira ou Lisboa, 13 ou 15 de Outubro de 1890 — ?) é um dos heterônimos mais conhecidos, verdadeiro alter ego do escritor português Fernando Pessoa, que fez uma biografia para cada uma das suas personalidades literárias, a que chamou heterônimos. Como alter ego de Pessoa, Álvaro de Campos sucedeu a Alexander Search, um heterônimo que surgiu ainda na África do Sul, onde Pessoa passou a infância e adolescência.
Depois de “uma educação vulgar de liceu” Álvaro de Campos foi “estudar engenharia, primeiro mecânica e depois naval” em Glasgow, realizou uma viagem ao Oriente, registrada no seu poema “Opiário”, e trabalhou em Londres, Barrow on Furness e Newcastle on Tyne (1922). Desempregado, teria voltado para Lisboa em 1926, mergulhando então num pessimismo decadentista.
Em 13 de Janeiro de 1935, Fernando Pessoa escreveu uma longa carta ao escritor e crítico literário Adolfo Casais Monteiro, que lhe solicitara resposta a algumas questões, designadamente sobre a gênese dos heterônimos. Em resposta, Pessoa fez uma “história direta” dos seus principais heterônimos, que considera serem Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. “Eu vejo diante de mim, no espaço incolor mas real do sonho, as caras, os gestos de Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. Construí-lhes as idades e as vidas”.
Quanto a Bernardo Soares, “ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa” e autor do Livro do Desassossego, uma das suas mais conhecidas personalidades literárias, Pessoa esclarece que ele não é um verdadeiro heterônimo: “O meu semi-heterônimo Bernardo Soares, que aliás em muitas coisas se parece com Álvaro de Campos, aparece sempre que estou cansado ou sonolento, de sorte que tenha um pouco suspensas as qualidades de raciocínio e de inibição; aquela prosa é um constante devaneio. É um semi-heterônimo porque, não sendo a personalidade a minha, é, não diferente da minha, mas uma simples mutilação dela. Sou eu menos o raciocínio e a afetividade”.
Entre todos os heterônimos, Álvaro de Campos foi o único a manifestar fases poéticas diferentes. Houve três frases distintas na sua obra.
Começou a sua trajetória como Decadentista (influenciado pelo Simbolismo), mas logo adere ao Futurismo: é a chamada Fase Sensacionista, em que produz, com um estilo assemelhado ao de Walt Whitman, versilibrista, jactante, e com uma linguagem eufórica onde abundam as onomatopeias, uma série de poemas de exaltação do Mundo moderno, do progresso técnico e científico, da industrialização e da evolução da Humanidade: Álvaro de Campos é muito influenciado por Marinetti, o fundador do futurismo.
Após uma série de desilusões e crises existenciais, passa para a Fase Niilista ou Intimista e assemelha-se muito, sobretudo nas temáticas abordadas, à obra do Pessoa ortônimo: a desilusão com o Mundo em que vive, a tristeza, o cansaço (“o que há em mim é sobretudo cansaço”, assim começa um dos seus mais famosos poemas) leva-o a refletir, de modo assaz saudosista, sobre a sua infância, passada na “velha casa”: infância arquetípica, de uma felicidade plena, é o contraponto ao seu presente. Uma fase caracterizada pelo cansaço e pelo sono que se denota bastante no poema pessimista “Dactilografia” da obra Poemas:
Que náusea de vida!
Que abjecção esta regularidade!
Que sono este ser assim!
No poema “Aniversário” Álvaro de Campos compara a sua infância, “o tempo em que festejava o dia dos meus anos” com o tempo presente, em que, afirma “ já não faço anos. Duro. Somam-seme dias”. Este é talvez o exemplo mais acabado — e mais conhecido — dessa mitificação da infância, por contraste à tristeza e descrença do poeta no presente.
Álvaro de Campos (Tavira ou Lisboa, 13 ou 15 de Outubro de 1890 — ?) é um dos heterônimos mais conhecidos, verdadeiro alter ego do escritor português Fernando Pessoa, que fez uma biografia para cada uma das suas personalidades literárias, a que chamou heterônimos. Como alter ego de Pessoa, Álvaro de Campos sucedeu a Alexander Search, um heterônimo que surgiu ainda na África do Sul, onde Pessoa passou a infância e adolescência.
Depois de “uma educação vulgar de liceu” Álvaro de Campos foi “estudar engenharia, primeiro mecânica e depois naval” em Glasgow, realizou uma viagem ao Oriente, registrada no seu poema “Opiário”, e trabalhou em Londres, Barrow on Furness e Newcastle on Tyne (1922). Desempregado, teria voltado para Lisboa em 1926, mergulhando então num pessimismo decadentista.
Em 13 de Janeiro de 1935, Fernando Pessoa escreveu uma longa carta ao escritor e crítico literário Adolfo Casais Monteiro, que lhe solicitara resposta a algumas questões, designadamente sobre a gênese dos heterônimos. Em resposta, Pessoa fez uma “história direta” dos seus principais heterônimos, que considera serem Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. “Eu vejo diante de mim, no espaço incolor mas real do sonho, as caras, os gestos de Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. Construí-lhes as idades e as vidas”.
Quanto a Bernardo Soares, “ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa” e autor do Livro do Desassossego, uma das suas mais conhecidas personalidades literárias, Pessoa esclarece que ele não é um verdadeiro heterônimo: “O meu semi-heterônimo Bernardo Soares, que aliás em muitas coisas se parece com Álvaro de Campos, aparece sempre que estou cansado ou sonolento, de sorte que tenha um pouco suspensas as qualidades de raciocínio e de inibição; aquela prosa é um constante devaneio. É um semi-heterônimo porque, não sendo a personalidade a minha, é, não diferente da minha, mas uma simples mutilação dela. Sou eu menos o raciocínio e a afetividade”.
Entre todos os heterônimos, Álvaro de Campos foi o único a manifestar fases poéticas diferentes. Houve três frases distintas na sua obra.
Começou a sua trajetória como Decadentista (influenciado pelo Simbolismo), mas logo adere ao Futurismo: é a chamada Fase Sensacionista, em que produz, com um estilo assemelhado ao de Walt Whitman, versilibrista, jactante, e com uma linguagem eufórica onde abundam as onomatopeias, uma série de poemas de exaltação do Mundo moderno, do progresso técnico e científico, da industrialização e da evolução da Humanidade: Álvaro de Campos é muito influenciado por Marinetti, o fundador do futurismo.
Após uma série de desilusões e crises existenciais, passa para a Fase Niilista ou Intimista e assemelha-se muito, sobretudo nas temáticas abordadas, à obra do Pessoa ortônimo: a desilusão com o Mundo em que vive, a tristeza, o cansaço (“o que há em mim é sobretudo cansaço”, assim começa um dos seus mais famosos poemas) leva-o a refletir, de modo assaz saudosista, sobre a sua infância, passada na “velha casa”: infância arquetípica, de uma felicidade plena, é o contraponto ao seu presente. Uma fase caracterizada pelo cansaço e pelo sono que se denota bastante no poema pessimista “Dactilografia” da obra Poemas:
Que náusea de vida!
Que abjecção esta regularidade!
Que sono este ser assim!
No poema “Aniversário” Álvaro de Campos compara a sua infância, “o tempo em que festejava o dia dos meus anos” com o tempo presente, em que, afirma “ já não faço anos. Duro. Somam-seme dias”. Este é talvez o exemplo mais acabado — e mais conhecido — dessa mitificação da infância, por contraste à tristeza e descrença do poeta no presente.